--2011/11/04
Viviam no "Polígono da Castanha", sul do Pará, como era chamada a região de um milhão de hectares cujo local teria surgido a espécie que chamamos de castanha-do-pará.
E que por milhares de anos, índios da região colheram castanhas, que serviam de base para a alimentação das culturas que se desenvolveram nessa parte da Amazônia, fronteira com o cerrado de Tocantins e Maranhão. A partir do século 19, migrantes rumaram para a região, atacaram os índios, e eliminaram quase que totalmente suas culturas, e passaram a colher as castanhas, que se tornou a principal economia até 1970, quando teve inicio a ocupação da região organizada pelo governo militar: assentamentos, zonas de pasto, desmatamento, etc. José Cláudio e sua esposa Maria após muitos anos de luta, conseguiram criar um assentamento, não queriam uma reserva, mas ter autonomia nos lotes e ter a floresta para dela extrair o sustento, ambos ensinavam que com a floresta deve haver um pacto, aonde todos se beneficiam: enquanto os frutos estão nas copas, papagaios e araras comem lá em cima, e quando caem no chão se beneficiam a paca, o veado, e acontece a coleta humana, ou seja, uma alternativa muito mais sustentável.
Tristeza, para ele, era escutar o barulho de uma árvore sendo serrada. "Quando vai cair, você escuta o gemido dela, um ronco. E vai vendo as folhas mexendo, como vão dando adeus", afirmava.
Um ideal
José Claudio tinha orgulho de ser apelidado de "Zé Castanha". Descendente de índios que teriam sido capturados e atacados por castanheiros, cresceu nesse mato, com seu pai, que também vivia da economia desse fruto. Ai de quem se atrevesse a cortar uma castanheira. José ficava bravo, e, para proteger a floresta, procurava os meios legais.
Denunciava e por denunciar, foi ameaçado por fazendeiros e madeireiros da região. Assim foi assassinado, junto de sua esposa, Maria do Espírito Santo, no dia 24 de maio de 2011, fazendo reviver os temores de violência covarde como da morte de Chico Mendes, em 1988, ou da irmã Dorothy Stang, em 2005. Após o assassinato de Zé Castanha e Maria, uma série de outros assassinatos de assentados ligou um sinal vermelho sobre o que pode estar ocorrendo na região. Os últimos meses foram de intenso desmatamento, uma alta de 500% no Mato Grosso, e aumento de 72%, segundo o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), na Amazônia.
O sul do Pará, terra do Zé Castanha, é uma das regiões mais desmatadas do bioma amazônico. Primeiro foi a indústria madeireira, que se aproveitou do mogno, a madeira mais valiosa do mundo e que ali dava em abundância. Depois veio a mineração, com a mina de ferro de Carajás e junto dela as usinas siderúrgicas que utilizam altos-fornos que queimam carvão vegetal, oriundos de mata nativa. Além disso, para ter terra, era incentivado pelo governo o desmatamento e a conversão da floresta em pasto, produzindo uma rede de destruição: o madeireiro, que tira a madeira, o carvoeiro, que usa o resto da mata para produzir carvão e o pecuarista, que quer a terra sem floresta para o pasto.
Uma teia de poder econômico contra o qual os castanheiros, como Zé e Maria, se opunham e por isso foram assassinados. Que sua história de vida seja a motivação de comemorarmos dia 21 próximo, o dia da Árvore! Pense nisso!
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